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Conselho Diretivo Regional

da Secção Regional Centro

ORDEM ENFERMEIROS

Os Serviços de Saúde têm na actualidade muitas dificuldades com a gama crescente de procura por necessidades de saúde da população devido às restrições financeiras que lhe limitam o potencial da sua missão. Estas restrições financeiras estão a estrangular as infra-estruturas e a força de trabalho dos serviços que prestam cuidados de saúde aos cidadãos.

 

Neste contexto, o trabalho da Enfermagem vive uma crise marcada por uma carência crítica de recursos humanos e materiais. A variada e complexa natureza desta carência redunda num ambiente de trabalho pouco saudável que enfraquece o desempenho, cria alheamento, distanciamento e mesmo abandono da profissão por parte de profissionais.

 

  • Certo é que os enfermeiros estão presentes em todos os contextos dos serviços de saúde, desenvolvendo em todos actividade relevante para o seu funcionamento;

  • Devido aos contextos sociais (longevidade da população, alterações dos padrões de vida, crise económica com elevado índice de pobreza e exclusão do mundo do trabalho, doenças crónicas com elevada incidência) agrava-se as dificuldades em dar respostas às solicitações dos cidadãos por dotações deficientes de recursos humanos e matérias. Há uma carência de enfermeiros que varia de acordo com a localização geográfica, nível de cuidados, sector, serviço e organização;

  • Agrava esta carência a migração de enfermeiros para outros países à procura de melhores condições de trabalho que influenciam também a qualidade de vida. A esta “fuga” de recursos não é alheio o desemprego e sub-emprego dos enfermeiros gerados pelas restrições financeiras do projecto politico que governa o SNS em Portugal;

  • Ora esta carência mina a missão, as metas e os objectivos do SNS pondo em causa a capacidade de satisfazer as necessidades dos cidadãos e conduz a um esbanjamento do investimento feito na formação de enfermeiros (formação seguramente da melhor da Europa) que não capitaliza na melhoria dos cuidados de saúde a prestar aos cidadãos de Portugal;

  • As deficiências institucionais de recursos materiais e humanos bem como a falha na assertividade da manutenção adequada dos equipamentos e na formação contínua dos enfermeiros conduzem à progressiva deterioração dos serviços de saúde.

  • A motivação para a prestação de cuidados de enfermagem de qualidade prende-se tanto com questões salariais como com questões de desempenho das funções em que se englobam o acesso à actualização formativa e o ambiente de trabalho, isto é, equipamento, fármacos e tecnologia, respeito pela idoneidade profissional, respeito pela pessoa do enfermeiro que inclui o género e respeito pelo cumprimento da legislação laboral;

  • Ambientes de trabalho pouco saudáveis afectam a saúde física e psicológica dos enfermeiros sobretudo devido ao stress induzido por cargas laborais pesadas, horários prolongados, atritos de papéis com outros profissionais, violência laboral e outros riscos inerentes às circunstâncias de exercer em ambiente de risco;

  • Existem estudos que comprovam que as exposições a longos períodos de tensão profissional levam a rupturas das relações saudáveis no local de trabalho, aumentam as baixas por doença, conflito, insatisfação profissional, rotatividade e ineficiência;

  • As diferenças nos investimentos para instalações, serviços e salários influenciam a migração dos enfermeiros. Saliente-se que os migrantes deslocam-se geralmente do ambiente rural para o urbano, dentro do mesmo país, ou para fora do país para outros que assegurem melhores condições de vida profissional, familiar e social;

  • A migração cria impacto sobre as cargas laborais nas áreas de onde saíram pois os que ficam asseguram cargas laborais mais pesadas;

  • Saliente-se também que permanece no seio das organizações uma descriminação negativa de género – a enfermagem ainda é conectada com uma actividade de mulher e como tal é valorizada quer em conteúdo quer em benefícios abaixo do que a sua capacidade de trabalho, liderança e desempenho técnico e científico deve auferir tendo em conta outras realidades profissionais paralelas;

  • A exposição contínua a ambiente de penosidade e risco com cargas laborais desumanas por inadequação das dotações de recurso, ocorrendo frequentemente em ambientes de elevada carga emocional com contacto físico, elevam a percepção de desvalorização e desrespeito por parte dos enfermeiros em relação á organização por esta não valorizar condignamente quer as necessidades dos utentes (doentes e familiares) quer o trabalho dos enfermeiros que lhes prestam cuidados;

  • O exercício em trabalho por turnos é uma característica que abrange a larga maioria dos enfermeiros. Este regime de horário que cobre as 24 horas pode ter efeitos de:

 

  • Desorganização do sono, insónias e dificuldade em dormir

  • Maior disposição para problemas de saúde e aumento do uso de medicação

  • Fadiga, sonolência no local de trabalho, distúrbios de humor e menor concentração

  • Maior propensão para a ocorrência de acidentes

  • Perturbações na vida familiar e social

 

  • A prestação de cuidados de enfermagem de qualidade exige um ambiente de trabalho seguro e um tratamento respeitoso. Cargas laborais excessivas, condições de trabalho inseguras e apoios institucionais inadequados podem ser consideradas formas de violência que dificultam o bom desempenho profissional;

 

Para nós é mais importante “ser e realizar, construir e desenvolver” do que “ter ou parecer”. Para isso deve haver uma reconstrução da filosofia do trabalho ajuizada na valorização da pessoa que procure colocá-lo não na centralidade da vida nem na marginalidade mas antes buscar uma razão bem mais humana para a actividade “ Trabalho”. Importa que se produza não só bens materiais ou materializáveis mas também na mesma dimensão valorativa bem-estar e não desprazer, falta de vitalidade, ética, estética e liberdade. Acima de tudo não nos podemos esquecer que o Homem é um ser múltiplo pela sua dimensão bio-psico-social e não é reduzível a mero trabalhador.

dotrabalho

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